Introdução aos CDZ -> Matérias comemorativas -> 20 anos do filme do Abel nos cinemas brasileiros

Informações

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Introdução

No dia 14 de julho de 1995 estreava nos cinemas de todo o Brasil o filme Os Cavaleiros do Zodíaco: O Filme (longa metragem onde os cavaleiros enfrentam o deus Abel). Para comemorar os 20 anos desta data, resolvemos fazer uma bela homenagem, revirando os nossos arquivos atrás de informações e conversando com algumas pessoas envolvidas com o lançamento na época. Confira:

O filme foi uma aposta da AB Films (Alberto Bitelli International Films), empresa fundada em 1951. Há algum tempo tentávamos procurar algum representante da empresa, mas sem sucesso. Eis que, em julho de 2015, conseguimos conversar com Marcelo Bitelli, filho do fundador da empresa e o responsável direto por trazer o filme para o Brasil na época. Ele se surpreendeu por ainda existirem fanáticos pelos Cavaleiros do Zodíaco como nós nos dias de hoje. Tentamos marcar uma reunião com ele, mas acabou que ele mesmo nos convidou para um almoço, que aconteceu no dia 8 de julho de 2015 (uma quarta-feira, no bairro de Perdizes, em São Paulo). Foram duas horas e meia relembrando e resgatando histórias sobre a época de ouro dos Cavaleiros do Zodíaco no Brasil.

Alberto Bitelli (foto), juntamente com seu filho, Marcelo Bitelli, foram os responsáveis por trazer o filme ao Brasil (reportagem da revista Manchete de 29 de julho de 1995).

Marcelo nos contou que a empresa já estava observando a boa repercussão que o anime vinha tendo na Rede Manchete no final de 1994 e ele sabia do sucesso que já havia acontecido em países com México e França. Diante disso, ele foi até o Japão, em um feira do ramo de vídeo, e conversou diretamente com a Toei Animation. A ideia inicial era comprar os direitos dos 114 episódios e lançá-los diretamente em VHS, porém seria muito complicado por dois motivos: a quantidade de episódios e o fato de não existir ainda um mercado estabelecido de sell-thru (venda direta ao consumidor) no Brasil (vale lembrar que o mercado de rental, ou seja, de locações de fitas, já ia bem por aqui). Sendo assim, a Toei Animation ofereceu os 4 filmes da série (Éris, Durval, Abel e Lúcifer), que foram aceitos de prontidão pela empresa brasileira. O investimento não foi pequeno: cerca de 100 mil doláres (seria o equivalente a mais ou menos meio milhão de reais nos dias de hoje).


Início dos trabalhos

Conforme já falamos, a série já dava os primeiros sinais de sucesso no final de 1994. A exibição na Rede Manchete rendia boa audiência para a emissora (lembrando que a estreia aconteceu no dia 1 de setembro de 1994). A distribuidora de brinquedos Samtoy (representante da Bandai por aqui), comemorava o sucesso estrondoso da venda de bonecos (action figures da linha Saint Cloth Series, popularmente conhecida no Brasil como diecast), que começaram a ser vendidos no dia 12 de setembro, ou seja, apenas 11 dias após a estreia na TV. A ideia da empresa era vender entre 80 a 100 mil unidades até o Natal de 1994, porém já no primeiro mês vendeu tudo. Com isso, a Samtoy/Bandai se viu obrigada a desviar a carga originalmente destinada ao México e Espanha diretamente para o Brasil, num investimento de 3 milhões de dólares para importar 400 mil bonecos, afim de atender a demanda do Natal. Para chegar a tempo, a empresa teve que gastar mais dinheiro, abrindo mão do transporte por navio e se vendo obrigada a utilizar 17 aviões para transportar a carga inteira (reportagem publicada no jornal O Estado de São Paulo de 27 de novembro de 1994).

A Alien Planetoys, empresa que detinha os direitos de licenciamento de produtos da série no Brasil, já começava a trabalhar com empresas interessadas em lançar produtos. E não foram poucas, estima-se que 24 empresas licenciaram produtos, faturando juntas cerca de 50 milhões de dólares até o meio de 1995 (reportagem da revista VEJA, de 19 de julho de 1995).

Propaganda das primeiras fitas em VHS lançadas pela AB Films!

A AB Films começou a receber o material no começo de 1995. Todo o processo de replicação das fitas na época era demorado, já que nada era digital. A empresa montou o selo "Premier Films" para a venda direta ao consumidor e tercerizou a venda para locadoras com a empresa FlashStar Home Video, que utilizou inicialmente o selo "Cartoon Home Video". As duas primeiras fitas lançadas (dia 19 de junho de 1995) foram do filme da Éris (intitulado na época apenas como Saint Seiya) e do Durval (intitulado na época como A Batalha dos Deuses). O sucesso foi imediato, com cerca de 70 mil cópias logo de cara. Obviamente não chegou perto do maior sucesso da Disney, O Rei Leão, que tinha acabado de inaugurar o setor de vendas diretas ao consumidor com 700 mil cópias, mas as fitas dos Cavaleiros do Zodíaco fizeram muito barulho na época, chamando até a atenção da própria Disney, que via um potencial concorrente surgindo. Estimasse que ao todo, no final de 1997, as fitas dos Cavaleiros do Zodíaco teriam vendido cerca de 300 mil unidades. Não há dados ou registros oficiais da época, mas Marcelo Bitelli nos confirmou que foi algo em torno disso mesmo. De qualquer forma, o sucesso das duas primeiras fitas deu uma segurança para a AB Films investir pesado no longa para o cinema em seguida.


Dublagem

A dublagem do filme aconteceu de forma rápida. Mais uma vez a Gota Mágica foi contratada para realizar o trabalho, sob a direção de Gilberto Baroli (dublador do Saga), tradução de Susana Colonna e edição/mixagem de Sérgio Jovine. Uma das coisas mais interessantes sobre a dublagem do filme diz respeito a trilha sonora, onde o estúdio optou por incorporar as músicas do CD brasileiro que já faziam sucesso (foi feito um acordo com Sony, responsável pelo lançamento do CD aqui) e a criação de algumas trilhas exclusivas. A grande maioria dos fãs concorda que foi uma das melhores coisas que fizeram neste filme, já que as trilhas transformaram aquela versão do filme em algo único. A versão original japonesa é muito monótona, dá vontade de dormir, diferente da versão brasileira. Um dos responsáveis por isso foi o dono da Gota Mágica, o Mário Lúcio de Freitas. Em entrevista realizada conosco em 19 de outubro de 2011, Mário Lúcio nos contou:

"Se você parar para pensar, essas modificações nas trilhas sempre foram uma constante na Gota. Dentro dos próprios capítulos aparecem trechos das canções do CD. Mas infelizmente, esse material foi feito e enviado para a Toei, e nada ficou com a gente."

Foto do dublador Hermes Baroli na época das dublagens na Gota Mágica (reportagem da revista Herói 41).

Ainda sobre a dublagem, o jornalista Marcelo Del Greco, responsável pelas matérias da revista Herói na época, bateu um papo com a gente também. Marcelo teve a oportunidade de acompanhar um pouco das dublagens dentro do estúdio e nos contou duas curiosidades: inicialmente o dublador do deus Abel seria o Nelson Machado (dublador do Quico, de Chaves, e do Caronte de Aqueronte, em Cavaleiros do Zodíaco), mas por algum motivo ele não pode dublar e chamaram o lendário Dráuzio de Oliveira. A outra curiosidade é sobre a adição de uma fala do Shiryu naquela hora em que o Seiya, o Shiryu e o Hyoga começam a lutar contra o Abel, com as Armaduras de Ouro. Shiryu empurra o Seiya para ele não levar aquela bola gigante de energia, mas como ninguém conseguia ver isso, Marcelo sugeriu colocar uma fala ali, o famoso: "Cuidado Seiya!". Já a famosa frase "Shiryu, amigo!", dita por Shun quando o Dragão o ajuda em determinado momento do filme, foi totalmente por acaso. É verdade também que existem vários erros de dublagem no filme, como a tradicional fala do Jaô: "lutou maravilhosamente bem na 12ª casa". Os erros aconteciam em abundância durante a série clássica também, muitas vezes pelo fato da tradução ser feita em cima da versão espanhola, que em grande parte já vinha com erros. De qualquer forma, faltava gente que conhecia a história para ajudar.


Chegam as férias de julho de 1995

Pôster que era brinde da revista Herói

O mês de julho chegou, mês escolhido para o lançamento do longa do Abel nos cinemas (batizado por aqui de Os Cavaleiros do Zodíaco - O Filme), obviamente aproveitando a questão das férias escolares. Como todos sabem, na década de 90, a série, de uma forma geral, era focada no público infantil (6 a 14 anos), existiam alguns fãs acima dos 15 anos, mas o foco eram as crianças mesmo (sabemos que isso mudou um pouco com o passar dos anos aqui no Brasil). A divulgação do filme foi grande também: em jornais, em revistas e principalmente na televisão, com trailers em diversos canais de TV (menos na Rede Globo, que não aceitou exibir). Além disso, os novos episódios (53 em diante) já tinham sido lançados em maio na Manchete, ajudando aumentar a expectativa dos fãs.

A revista Herói, famosa na época por acompanhar semanalmente o sucesso da série, com matérias que instigavam os fãs, teve uma vendagem recorde na edição 36, dedicada exclusivamente ao filme do Abel, com 450 mil unidades vendidas (reportagem da revista VEJA, de 19 de julho de 1995), superando a média dela de 250 a 350 mil unidades (reportagem do programa Vitrine, da TV Cultura). Esta edição inclusive era acompanhada de um belo pôster, com Hyoga, Seiya e Shiryu vestindo Armaduras de Ouro.

Abaixo, você confere dois incônicos comerciais de TV, narrados pelo dublador Jorgeh Ramos (falecido em 30/11/2014):


A estreia

O filme estreou no dia 14 de julho de 1995, em 209 cinemas do país, recorde para a época. Havia filas e mais filas na porta de cada sala. Crianças sentadas nas escadas, pois todos os lugares estavam lotados (na época era comum venderem mais ingressos do que a sala comportava).

"Nunca um filme estreou no país ocupando tantas salas ao mesmo tempo e poucas vezes um longa-metragem infantil enfrentou concorrência tão feroz numa temporada de férias de julho." (citação da revista VEJA, de 19 de julho de 1995)

O pôster oficial é raro de ser conseguido nos dias de hoje!

Foi uma verdadeira loucura, quem viveu aquela época tem ciência do que foi, quem não viveu infelizmente talvez nunca terá a chance de presenciar algo parecido. Fica difícil até explicar, mas era uma verdadeira febre. O clima criado dentro das salas de cinema de todo o Brasil contagiavam demais e em todas elas o cenário era o mesmo: crianças cantando a música tema durante a abertura do filme, vibrando com as lutas e torcendo pelos seus personagens preferidos. Nem mesmo a falha na utilização da capa do filme do Lúcifer no pôster oficial e em todos os materiais promocionais do filme atrapalharam a boa aceitação nos cinemas. Sobre este tema, Marcelo Bitelli explicou que o material recebido pela Toei Animation era muito escasso e eles foram obrigados a utilizar as poucas imagens que tinham, sendo esta a mais chamativa para um pôster. Entretanto ele concorda que a falta de conhecimento ajudou a cometer o erro e que se existisse uma consultoria, ou por parte de fãs como existe hoje ou por parte de algum profissional da área, isso poderia ter sido evitado.

O filme atingiu a marca de meio milhão de espectadores em uma semana apenas. Hoje em dia este número pode parecer pequeno para um filme, mas acredite: para a época era muita coisa mesmo. Foram quase três meses em cartaz, chegando a um bilheteria final de 1 milhão e 400 mil pessoas (citação de Marco Aurélio Marcondes ao jornal O Globo de 24 de outubro de 2010).

Acompanhando o sucesso do filme, um Livro Ilustrado (CLIQUE AQUI para ver), foi lançado pela Prince Editora. As Balas Zung (CLIQUE AQUI para ver) também fizeram grande sucesso nesta época e traziam figurinhas tematizadas com o filme. A revista Manchete (nº 2260, de 29 de julho de 1995), fez uma matéria sobre o sucesso do longa e de brinde presenteou os fãs com um pôster (CLIQUE AQUI para ver)

Aqui, algumas importantes citações de veículos de imprensa na época:

"... a estreia de Os Cavaleiros do Zodíaco é a mais importante do país nos últimos anos ..." (jornal O Estado de São Paulo, por Luiz Carlos Merten)

"... o sucesso será uma barbada. Os Cavaleiros do Zodíaco são uma mania nacional ..." (jornal Diário Popular, por Cléber Eduardo)

"... deixa as crianças em estado de absoluto fascínio ..." (revista VEJA, por Okky de Souza)

Recortes de jornais variados da época (agradecimentos aos fãs Rafael de Pégasus e Thiago Bronze).

Trailer exibido nos cinemas:


Lançamento em VHS e na Rede Manchete

Capa da fita VHS

Após o sucesso nos cinemas, a AB Films preparou o lançamento para o mercado de home-video. O lançamento da fita de VHS aconteceu no dia 22 de setembro de 1995, juntamente com a fita do filme do Lúcifer (intitulado na época como A Batalha Final). O sucesso foi grande também nas locadoras. A AB Films produziu vários materiais promocionais, como pôsteres e displays gigantes do Seiya.

O filme foi exibido também na Rede Manchete, no dia 26 de maio de 1996 (um domingo, as 17h30), através de um acordo de permuta entre a emissora e a distribuidora, atingindo recorde de audiência, batendo inclusive a Rede Globo neste dia. Muitos anos depois, em 19 de setembro de 2007, o filme foi lançado em DVD, mas aí já com outro licenciamento (pela PlayArte) e outra dublagem (pela Dubrasil), com o nome de A Lenda dos Defensores de Atena.

O hoje raríssimo pôster que figurava nas locadoras na época.
Rara foto de uma loja Multisom, que vendia
as fitas dos CDZ em setembro de 1995!

Ficou na memória

Marcelo Bitelli em meados de 1995!

O lançamento do filme do Abel nos cinemas brasileiros marcou o ápice do sucesso da série no Brasil. O ano de 1995 foi o mais especial para a série aqui de uma forma em geral, tanto para as empresas, quanto para os fãs. É inegável que o sucesso dos Cavaleiros do Zodíaco quebrou paradigmas e iniciou uma invasão de animes no país nos anos seguintes. O termo "AC" (antes de Cavaleiros) e "DC" (depois de Cavaleiros), citado até pelos japoneses, foi por causa deste período mágico, engrandecido e muito pelo filme do Abel.

Voltando ao trecho do começo da matéria, Marcelo Bitteli, dono da AB Films, nos contou que lembra com carinho desta época, embora não tenha se apegado a série e nem acompanhado o que aconteceu depois. Na visão dele foi algo importante, muito trabalhoso é verdade, que rendeu um bom dinheiro para a empresa na ocasião, mas que infelizmente durou pouco e passou. A série em si ficou no ar um pouco mais do que 3 anos apenas (1994 até 1997), quando perdeu fôlego, algo natural de se acontecer.


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última atualização realizada em: 13/04/2021